A ciência por trás da motivação

Manter a motivação de uma criança ou um adolescente parece ser um desafio constante para pais e educadores, ainda mais em tempos em que o sentimento de tédio é muitas vezes evitado. Contudo, antes de recorrer a textos de autoajuda sobre a importância da motivação para os jovens é preciso observar o que a ciência tem a dizer sobre a maneira como ela afeta nosso cérebro.

Para começar, é importante explicar que a ciência fala em dois tipos de motivação: a extrínseca e a intrínseca. A primeira diz respeito à motivação despertada por fatores externos, como a busca por recompensas, prêmios, bônus e notas. Já a segunda está relacionada aos fatores internos, vem de um desejo pessoal de cada um e nem sempre precisa de recompensa para ser despertada.

Acontece que nosso cérebro tem um forte apelo para a motivação extrínseca, pois gosta de antecipar a recompensa imediata. Quando recompensado, ele produz produtos químicos como dopamina, serotonina, adrenalina e glutamato, cada um servindo para um propósito diferente, mas todos colaborando para que o cérebro tenha prazer e busque mais recompensas. Como consequência, é necessário muita autorregulação para resistir aos pequenos prazeres e esperar uma recompensa de longo prazo. Sabe aquela sensação de comer uma barra de chocolate no meio da tarde, mesmo quando a saúde pede para cortar o excesso de doces? É disso que estamos falando.

Segundo o estudo “Entendendo a Motivação: construindo uma arquitetura do cérebro para a aprendizagem, a saúde e a participação comunitária”, divulgado este ano pelo Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a motivação para buscar objetivos pessoais ou coletivos faz parte de mecanismos no cérebro que constroem as bases na infância e seguem em desenvolvimento na vida adulta. Assim, todas as experiências de uma pessoa influenciam seu comportamento e motivação.

Uma criança criada em um lar caótico e estressante, por exemplo, pode desenvolver sistemas de motivação baseados no medo de castigos, e ter mais dificuldade de encontrar motivações intrínsecas em sua vida. Por isso, os pesquisadores defendem que proporcionar às crianças maior possibilidade de ter experiências iniciais construtivas ajuda a criar sistemas saudáveis e equilibrados de motivação. A longo prazo, esse incentivo inicial pode levar a uma sociedade com pessoas mais motivadas a participar ativamente e de forma produtiva em escolas, empregos e comunidades – além de afertar a perseverança diante de contratempos.

Como desenvolver a motivação em crianças e adolescentes

Outro dado apontado pelo estudo é que incentivar a motivação em relação à escola usando apenas mecanismos de recompensa imediatos, como boas notas e pontos extras, pode não ser o melhor caminho o engajamento. O motivo é que nosso cérebro tende a ficar “acostumado” à sensação causada por essas recompensas imediatas e, com o tempo, perde o interesse nelas. Mas o oposto também é verdadeiro: quando a motivação é intrínseca, a sensação de prazer provocada por ela serve como motor para persistir.

Para incentivar a motivação verdadeira de crianças e jovens, é preciso mais do que recompensas. É necessário abrir espaço para que eles possam falar sobre seus objetivos e anseios, além de escutar boas experiências que possam inspirá-los. Confira algumas recomendações nesse sentido:

Incentive a diversão entre as crianças. Quando é dada a oportunidade, crianças de todas as idades se engajam espontaneamente em brincadeiras. Os ingredientes dos jogos estimulam o aprendizado: o ato de brincar é intrinsecamente motivador, apresenta uma oportunidade para novas experiências e de aprender com os outros, requer engajamento ativo, pode fortalecer os laços sociais e reduzir o estresse. Quando a vida é agitada ou caótica, pode ser difícil encontrar tempo e espaço para incentivar as brincadeiras das crianças, mas esse é um aspecto importante do desenvolvimento.

Priorize a interação social. Na era digital, existem muitos aplicativos educacionais digitais projetados para crianças, mesmo a partir dos 6 meses da idade. No entanto, mesmo os aplicativos mais bem projetados e eficazes não podem substituir as interações sociais da vida real com adultos e colegas. Um estudo de 2017 sobre tecnologia interativa mostrou que os bebês aprenderam elementos da linguagem de forma mais eficaz cara a cara com um professor ou cuidador do que quando a assistiram em vídeo. Outras pesquisas recentes mostram que crianças pequenas podem aprender com mídias digitais, como tablets com tela sensível ao toque, mas a interação social durante essa experiência de aprendizado ainda parece ser essencial.

Mantenha uma conexão próxima com os adolescentes.

A adolescência é um período em que muitos jovens são motivados a assumir riscos e ultrapassar barreiras. Essa tendência reflete, em grande parte, uma inclinação natural em direção a experiências novas que maximizam as oportunidades de aprendizado e são importantes na transição para a independência. À medida que os adolescentes se tornam mais motivados pela aprovação de seus pares, pode ser gratificante socialmente seguir líderes que assumem riscos para quebrar limites. No entanto, os adolescentes com relacionamentos familiares próximos são menos propensos a esse comportamento, mostram as pesquisas. O apoio dos pais e o diálogo aberto estão associados a menos comportamentos problemáticos, incluindo abuso de substâncias e delinquência. Para abrir esse canal, especialistas recomendam uma atitude simpática e solidária, sabendo que os jovens estão passando por mudanças em seus cérebros, corpos, e relações sociais que fazem com que comportamentos de risco sejam atraentes para eles. Manter as linhas de comunicação abertas é a melhor maneira ajudá-los.

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