Nos últimos anos, muito se aprendeu sobre como a biologia e o meio ambiente interagem para produzir o aprendizado e o desenvolvimento humano. Em 2018, um grupo de cinco pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, decidiu compilar boa parte desse conhecimento, revelando uma grande lista de descobertas científicas que vêm contribuindo para mudar a visão sobre o modo como vivemos e aprendemos. Selecionamos a seguir seis dessas descobertas e mostramos por que elas são importantes quando se fala em educação. Confira:
1. O cérebro e o
desenvolvimento são maleáveis.
A neurociência atual já é capaz de provar que a cérebro cresce e muda ao
longo da vida em resposta a experiências e relacionamentos. A natureza dessas
experiências e relacionamentos é muito importante para o desenvolvimento,
mostram os estudos na área. Nesse sentido, o desenvolvimento saudável do
cérebro é moldado por relacionamentos calorosos e consistentes, e comunicações
empáticas. Além disso, sua capacidade se desenvolve mais plenamente quando as
crianças e os jovens se sentem emocional e fisicamente seguros, conectados,
apoiados, engajados, desafiados e diante de ricas oportunidades para aprender
com materiais e experiências que lhes permitam investigar o mundo ao seu redor.
2. A aprendizagem é social,
emocional e acadêmica.
As emoções e as relações sociais afetam a aprendizagem. Relacionamentos
positivos, incluindo a sensação de confiança no professor, e emoções agradáveis,
como interesse e excitação, abrem a mente para a aprendizagem. Já as emoções
desagradáveis, como medo do fracasso, ansiedade e insegurança, reduzem a
capacidade do cérebro de processar informações e aprender. Segundo as
pesquisas, o aprendizado é moldado tanto pela conscientização desses aspectos,
incluindo a capacidade de gerenciar o estresse e direcionar a energia de
maneira produtiva, quanto pelas habilidades de interagir positivamente com
outros, resolver conflitos e trabalhar em equipe. A ciência já mostrou também
que essas habilidades podem ser ensinadas.
3. A adversidade afeta o
aprendizado.
A cada ano, de acordo com dados
internacionais, milhares de crianças são
expostas a violências, crimes, abusos ou traumas físicos e psicológicos, além
de falta de moradia e insegurança alimentar. Essas experiências adversas na
infância criam estresse tóxico que afeta a atenção, o aprendizado e o
comportamento. Pobreza e racismo, juntos e separados, tornam mais provável o
estresse crônico e a adversidade. E nas escolas onde os estudantes encontram
disciplina punitiva, ao invés de apoio para lidar com a adversidade, seu
estresse é ampliado. Para estudiosos como Linda
Darling-Hammond e Channa M. Cook-Harveyc, as
escolas podem amortecer os efeitos do estresse facilitando relacionamentos de
apoio entre adultos e crianças para que se estendam ao longo do tempo, ensinando
habilidades socioemocionais que ajudem a lidar com a adversidade, e criando
rotinas úteis para gerenciar salas de aula e verificar as necessidades dos
alunos.
4. Relações humanas são ingredientes
da aprendizagem saudável.
As relações de apoio e feedback com adultos atenciosos são essenciais
para o desenvolvimento e a aprendizagem saudáveis de crianças e adolescentes. Já
foi provado por James Heckman, no estudo que lhe rendeu o prêmio Nobel em
Economia, que relações positivas e estáveis podem amortecer os efeitos
potencialmente negativos até mesmo revertê-los em caso de adversidades sérias.
Quando os adultos têm consciência, empatia e competência cultural para apreciar
e compreender as experiências, necessidades e falas das crianças, elas têm mais
abertura para desenvolver atitudes e comportamentos positivos e criar confiança
para apoiar sua busca por aprendizado.
5. O conhecimento é construído
com base em experiências, relacionamentos e contextos sociais.
As pesquisas citadas pelo levantamento de Harvard mostram que, por causa da
plasticidade cerebral, os humanos moldam dinamicamente seu próprio aprendizado,
comparando e adicionando constantemente novas informações ao que já sabem. Esse
processo funciona melhor quando envolve aprendizado ativo e prático, conectando
novos conhecimentos a tópicos pessoalmente relevantes e experiências vividas.
Professores capazes de desenhar essas conexões, criar tarefas atraentes,
acompanhar e orientar esforços, além de oferecer feedback construtivo
com oportunidades de praticar e revisar o trabalho, ajudam a fazer de seus
alunos pessoas cada vez mais autoconscientes, confiantes e independentes.
6. O aprendizado não
acontece da mesma forma para todo mundo.
Ao contrário do que se acreditou por muitos anos, a ciência mostrou que o
ritmo e o perfil do desenvolvimento de cada criança são únicos. E como as
experiências criam uma trajetória única para seu crescimento, há vários
caminhos para um aprendizado eficaz – e não necessariamente um melhor caminho. Por
isso, em vez de presumir que todas as crianças responderão igualmente às mesmas
abordagens de ensino, professores eficazes personalizam sua maneira de
apoiá-las, e escolas eficazes evitam a prescrição de experiências de
aprendizagem em torno de uma média imaginária. Quando as escolas tentam
encaixar seus alunos em um ritmo único, elas perdem a oportunidade de alcançar
cada um, e podem fazer com que adotem visões contraproducentes sobre si mesmos
e sobre seu próprio potencial de aprendizado, o que prejudica seu progresso.