Para Eve Ekman, uma das principais pesquisadoras do mundo no campo das emoções, a carga emocional que experimentamos todos os dias faz com que “todo mundo seja, de certa forma, especialista em emoções”. A especialista faz parte do grupo de pesquisa das emoções fundado nos Estados Unidos por Paul Ekman, seu pai e outro grande estudioso dessa área, além de uma das referências teóricas do Laboratório Inteligência de Vida (LIV).
Em visita ao Brasil no final do último mês, Eve Ekman concedeu uma breve entrevista ao LIV e falou sobre temas relacionados à inteligência e à consciência emocional e sobre a importância de falar sobre sentimentos. A especialista comentou ainda sobre a Síndrome de Burnout, um distúrbio emocional também conhecido por Síndrome do Esgotamento Profissional, com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante e sobre como eles afetam os profissionais da educação. Confira a seguir:
- O que é inteligência emocional?
Existe uma diferença entre inteligência emocional e consciência emocional. Eu me dedico mais a ensinar a consciência emocional. A inteligência emocional é mais sobre identificar os sinais externos e internos a fim de agir e se comunicar. A consciência emocional inclui isso, mas também fala da possibilidade de ser afetado. Uma grande parte da consciência emocional é questionar “por que?”, “como?”, “o que eu aprendi sobre mim mesmo”, e não apenas mudando as circunstâncias imediatas, mas pensar sobre o que acontece na raiz da emoção.
- Quando você fala de consciência emocional você quer dizer ser mais aprofundado e se questionar mais sobre as emoções desenvolvidas no longo prazo, e não apenas em uma situação imediata?
Exatamente. Não apenas alterar o que acontece neste momento, mas o que acontece como um padrão no longo prazo.
- Você acha que é mais simples falar sobre emoções para crianças do que para adultos?
Depende da idade da criança, mas eu acredito que todo mundo é, de certa forma, um especialista emoções, por meio de tudo o que experimentamos todos os dias em nossas vidas.
- Outro tema que aparece em suas pesquisas é a Síndrome de Burnout. Você poderia falar mais sobre como ela afeta a prática profissional da educação?
O Burnout está associado à falta de reconhecimento das emoções e há três camadas de Burnout. Em um nível, a pessoa pode estar emocionalmente esgotada se sentindo oprimida, não querendo fazer amizade com suas emoções. Enfim, sentindo-se cansada. Em outro nível do Burnout, a pessoa não vê sentido nas ações. No nível final, está emocionalmente desengajada, porque não vê sentido ou propósito em nada. Eu acredito que é difícil no início se tornar consciente das emoções, porque há muitos gatilhos e muitas maneiras de sentir cada emoção, mas quando tomamos consciência delas com curiosidade acolhedora, nós nos sentimos menos estressados, porque não estamos mais tentando suprimi-las ou evitá-las, nem estamos procurando hábitos não saudáveis, como beber ou comer em excesso para suprimir ou nos distrair do modo como sentimos. Quando eu ensino [em minhas aulas] sobre Burnout, as pessoas demonstram naturalmente interessadas, pois veem como uma maneira de gerenciar e superar os desafios, e ser capaz de aprender as emoções de maneira significativa, entendendo que se você as evita ou as nega você não pode aprender nada e isso se torna pesado. É preciso gerar empatia dessa experiência.
- Parece que, embora os professores estejam voltados para ajudar as crianças com suas emoções e sentimentos, nem sempre é fácil para eles reconhecerem isso em si próprio e ter empatia com eles mesmos, seria isso?
[O Burnout] é uma questão com professores e também com pessoas que atuam na área da saúde. São pessoas que escolhem o trabalho porque eles gostam de ajudar outras pessoas, que oferece significado, mas ao ajudar muitos acabam com Burnout porque eles não estão cuidando de si. Eles passam por dificuldades, ficam disfuncionais, mas aqueles que estão gerenciando seu próprio estresse também estão ajudando a gerenciar o estresse em todo o sistema.
O Atlas das Emoções
O projeto mais conhecido de Eve Ekman é o Atlas das Emoções, uma criação digital feita em parceria com seu pai a pedido do Dalai Lama e divulgado em 2014. Segundo o Dalai Lama, o objetivo do projeto foi criar “um mapa de nossas emoções para desenvolver uma mente calma”, partindo do início, que é o reconhecimento das emoções básicas. Assim, o Atlas das Emoções foi criado como um mapa digital para as pessoas explorarem e entenderem emoções primárias de todo ser humano: raiva, medo, nojo, tristeza e alegria. De acordo o projeto, nossas emoções se desdobram em uma espécie linha do tempo. Essa linha começa com um “gatilho” que inicia uma experiência emocional e resulta em uma resposta. No site (disponível em inglês, espanhol, italiano e alemão), é possível ver como cada uma das cinco emoções básicas se expandem de maneira mais complexas a partir de diferentes gatilhos e gerando respostas variadas dependendo de como nos sentimos. Ainda durante a entrevista, a psicóloga falou sobre a possibilidade de melhorias no Atlas, ampliando para propostas de ação e também mais conteúdo sobre o reconhecimento das emoções no corpo.
Foto: Susan Merrell, 2016.
Bons esclarecimentos sobre consciência e inteligência emocional. Importante para nós desenvolvermos a empatia diante de colegas e identificar essa síndrome que as vezes nem percebemos que é recorrente em nosso ambiente de trabalho.
Vou compartilhar!
Boa noite! Amei essas considerações de Eve Ekman. O tema da minha dissertação será educação socioemocional e aprendizagem, portanto tenho bastante interesse em materiais que envolvam o tema, muito obrigada!