O que a escola pode fazer quando a família não quer conversar?

Um dos questionamentos que mais afeta os educadores é porque a participação familiar nas escolas é tão baixa. E se você atua na área da educação, provavelmente já vivenciou ou escutou relatos de reuniões vazias ou de responsáveis que não comparecem aos encontros. 

Para falar sobre esse tema tão complexo, convidamos a psicóloga e consultora Roberta Desnos, do Laboratório Inteligência de Vida (LIV). Em uma entrevista que dividimos em duas partes, ela fala sobre o que pode estar por trás dessa ausência familiar e como as escolas podem atuar para reverter o quadro. Confira a seguir:

Parte 1: Os desafios do diálogo

Para Roberta, antes de pensar nas razões que afastam as famílias da escola, seria interessante refletir que o silêncio e o afastamento são também formas de comunicar. “Precisamos exercitar essa escuta atenta para entender o que o silêncio comunica. Será que ele comunica resistência? Se sim, por que a família está resistente? Existem ainda silêncios que tentam comunicar a dificuldade da família de lidar com uma questão”, exemplifica.

A partir desse olhar seria possível, então, entender como mediar um processo de comunicação com a família, respeitando seus limites, tempos e silêncios. “Nem sempre falar é fundamental. Há famílias que podem ocupar um lugar de escuta, que é um lugar legítimo. A gente sempre valoriza quem fala e fala bem, mas se todo mundo falar não tem plateia”, aponta a especialista, citando Rubem Alves:

“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil…” – Rubem Alves, A Escutatória


Parte 2: Mudanças que impactam a relação da família com a escola

Outro questionamento ressaltado por Roberta é: “Quando a escola chama a família para uma visita, é para conversar ou reclamar?”. Para a psicóloga, ponderar esse ponto é importante para entender como a relação com mães, pais e responsáveis vem sendo construída.

Normalmente, destaca, as conversas são baseadas em notas baixas ou dificuldades de comportamento. “Raramente a gente chama a família para conversar […]. E quem gosta de ir a algum lugar para ouvir reclamação?”.

Para promover relações mais positivas e abertas, Roberta sugere que as escolas busquem alternativas simples, porém efetivas, como chamar a família para falar de coisas boas, criando momentos de convivência que sejam agradáveis. “Em uma reunião de pais, por exemplo, a escola pode começar com uma atividade socioemocional de quebra-gelo, brincadeira, troca e interação”, sugere. Para ela, isso faz com que a relação comece em um novo patamar. 

Além disso, a consultora do LIV indica ainda quatro pontos importantes para construir melhores relações:

  • Investir tempo no vínculo com as famílias;
  • Ouvir as temáticas que a família tem desejo de trabalhar;
  • Criar canais de comunicação;
  • Oferecer momentos prazerosos na escola.

Assista a seguir as recomendações completas: 

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